Presidente da Rússia diz que Moscou não teme nova Guerra Fria
O presidente russo, Dmitri Medvedev, afirmou nesta terça-feira que a Rússia não teme uma nova Guerra Fria com o Ocidente, após anunciar que o Kremlin reconheceu a independência das regiões separatistas da Abkházia e da Ossétia do Sul, que ficam em território georgiano.
"Não temos medo de nada, nem sequer da perspectiva de uma 'Guerra Fria', mas não a queremos", disse o líder do Kremlin, em entrevista ao canal de televisão em inglês "Russia Today".
"Nesta situação, tudo depende da postura de nossos parceiros da comunidade mundial. Se querem manter boas relações com a Rússia, compreenderão os motivos de nossa decisão. Mas, se optarem pelo confronto, pois bem, vivemos diversas situações, também viveremos esta", disse o chefe do Kremlin.
Ao justificar sua decisão de reconhecer as regiões georgianas, Medvedev citou a independência de Kosovo (ex-Província sérvia), aceita por dezenas de países do Ocidente em fevereiro deste ano, apesar dos protestos da Sérvia e da Rússia, que tinha advertido que o precedente "abria a caixa de Pandora".
"Diziam que Kosovo era um caso especial, mas cada caso é especial por sua natureza. Kosovo, Ossétia do Sul, Abkházia, todas têm uma situação especial", disse o líder russo.
Reconhecimento
Em clara afronta aos Estados Unidos, Medvedev anunciou sua decisão apoiado no Parlamento russo, que um dia antes aprovou, por unanimidade, uma moção para o reconhecimento das duas Províncias georgianas.
A decisão de Moscou, que ignora os apelos do Ocidente para Moscou apoiar a integridade territorial da Geórgia, foi duramente condenada pelos Estados Unidos, União Européia e Otan (Organização para o Tratado do Atlântico-Norte).
A região vive sob forte tensão desde o início do mês, quando a Geórgia, que é aliada dos EUA, enviou tropas para retomar o controle sobre a Ossétia do Sul, região separatista que declarou independência no começo dos anos 1990.
Moscou reagiu à ofensiva porque apóia o pequeno território e mantêm forças de paz na região. Rússia e Geórgia assinaram um cessar-fogo, intermediado pela França, mas desde o início dos conflitos vivem sob tensão. Líderes de vários países já fizeram apelos pela paz e pelo compromisso russo com a integridade territorial da Geórgia.
A Abkházia também declarou a independência unilateral no início dos anos 90 e já demonstrou vontade de se juntar ao território russo. Os auto-proclamados presidentes das duas regiões se reuniram com Medvedev em meio aos conflitos.
Reação
O presidente George W. Bush condenou a Rússia e afirmou que o Kremlin deve "reconsiderar" sua "irresponsável decisão" de reconhecer a independência das duas regiões separatistas.
"Os Estados Unidos condenam a decisão do presidente russo de reconhecer a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia. A atitude da Rússia só agrava as tensões e complica as negociações diplomáticas" para resolver o conflito, disse Bush em comunicado divulgado em seu rancho no Estado do Texas.
A Comissão Européia (braço Executivo da União Européia) também condenou "fortemente" a Rússia e declarou que "compartilha e apóia totalmente" as declarações da Presidência francesa, que um pouco antes lamentaram a determinação das autoridades russas.
A UE destacou que a integridade, soberania e independência da Geórgia estão reconhecidas pela Carta das Nações Unidas, pelas resoluções do Conselho de Segurança da ONU e pala Ata Final da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Mas a voz mais dura foi a do secretário-geral da Otan, De Hoop Scheffer, disse que a atitude representa uma "violação direta a várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a integridade territorial da Geórgia. "Resoluções que a própria Rússia apoiou", lembrou o secretário-geral em um comunicado.
Jaap de Hoop Scheffer destacou que a Otan "apóia firmemente a soberania e a integridade territorial da Geórgia" e fez um alerta ao governo de Medvedev para que respeite esses princípios. "As ações da Rússia nas últimas semanas colocam em dúvida o compromisso da Rússia com a paz e a segurança no Cáucaso", disse o secretário-geral.
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